Musa 3
Quando te vejo não acreditoParece um sonho ou delírioDa minha vida virasses o mitoE do meu espírito intenso martírioPor que assolas esse reles ser?Dá-me uma faca e em mim a cravoAo teu lado não consigo viver,Enquanto existires serei teu escravoTeus caprichos realizarei,Construirei o mais belo altarAos teus pés repousareiAo teu lado sempre vou estarE mesmo senil a beira da morteSempre fiél hei de servirNunca estarás a própria sorteNem mesmo quando eu partirPor ti transcendo barreirasSou um Hércules mesmo tísico,Com devoção ultrapasso fronteiras,Pois o amor é metafísico.Mas se possível não for entãoUma lembrança vou deixarTodos os dias cultivo um botãoE da linda rosa, o cheiro em ti vai ficar.
Não Correspondido
Esse teu jeito de andarPor demais misteriosoCausa-me um certo mal estarE por hora um colapso nervosoMe ignoras tantoComo um fantasma me sintoPasso as noites em prantoOu entregue a um copo de absinto.
Musa 2
Tuas curvas causam-me encantoFruto da providência divinaTão leve como o dançar da bailarinaArrepia-me a alma de espantoIntangível para mim tornastesResultado das longas noites,Castiga-me, odiosos açoitesIncita-me, furiosos embatesTocar-te é apenas o que almejoPorém é tarefa deveras árduaDói-me dos pés a espádua,Mas venço a dor, causa mor do desejoE assim sigo a imaginar-te comigoViajando a lugares distantes,Em devaneios com velhos navegantesQue como eu, pela musa, não temem o perigo.
Desafeto
Vivo como o feto escarrado
Nas condições do mundo agreste
Em que não vive sequer a peste,
Sinto-me assim por nunca ter sido amado.
Por mim não pagam um tostão,
De certa forma até agradeço
Sei que por justiça não mereço
E aqui permaneço, com meu reprimido coração
Vítima fui de diversas dores
Com vinte anos recém completos,
Já vivi mais desafetos,
Que esses augustos e veneráveis senhores
Continuo então como aquele feto
Descartado no frio hostil. Inútil!
Vou tocando minha vida fútil
Assombrado pelo desafeto.