terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Musa 3

Quando te vejo não acredito
Parece um sonho ou delírio
Da minha vida virasses o mito
E do meu espírito intenso martírio

Por que assolas esse reles ser?
Dá-me uma faca e em mim a cravo
Ao teu lado não consigo viver,
Enquanto existires serei teu escravo

Teus caprichos realizarei,
Construirei o mais belo altar
Aos teus pés repousarei
Ao teu lado sempre vou estar

E mesmo senil a beira da morte
Sempre fiél hei de servir
Nunca estarás a própria sorte
Nem mesmo quando eu partir

Por ti transcendo barreiras
Sou um Hércules mesmo tísico,
Com devoção ultrapasso fronteiras,
Pois o amor é metafísico.

Mas se possível não for então
Uma lembrança vou deixar
Todos os dias cultivo um botão
E da linda rosa, o cheiro em ti vai ficar.
Não Correspondido

Esse teu jeito de andar
Por demais misterioso
Causa-me um certo mal estar
E por hora um colapso nervoso

Me ignoras tanto
Como um fantasma me sinto
Passo as noites em pranto
Ou entregue a um copo de absinto.
Musa 2

Tuas curvas causam-me encanto
Fruto da providência divina
Tão leve como o dançar da bailarina
Arrepia-me a alma de espanto

Intangível para mim tornastes
Resultado das longas noites,
Castiga-me, odiosos açoites
Incita-me, furiosos embates

Tocar-te é apenas o que almejo
Porém é tarefa deveras árdua
Dói-me dos pés a espádua,
Mas venço a dor, causa mor do desejo

E assim sigo a imaginar-te comigo
Viajando a lugares distantes,
Em devaneios com velhos navegantes
Que como eu, pela musa, não temem o perigo.
Desafeto

Vivo como o feto escarrado
Nas condições do mundo agreste
Em que não vive sequer a peste,
Sinto-me assim por nunca ter sido amado.

Por mim não pagam um tostão,
De certa forma até agradeço
Sei que por justiça não mereço
E aqui permaneço, com meu reprimido coração

Vítima fui de diversas dores
Com vinte anos recém completos,
Já vivi mais desafetos,
Que esses augustos e veneráveis senhores

Continuo então como aquele feto
Descartado no frio hostil. Inútil!
Vou tocando minha vida fútil
Assombrado pelo desafeto.