segunda-feira, 11 de maio de 2009

Vou-me embora de Pasárgada
Millôr Fernandes



Vou-me embora de Pasárgada!
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Vou-me embora de Pasárgada
Sou inimigo do rei
Não tenho nada que eu quero
Não tenho e nunca terei
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Vou-me embora de Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
A existência é tão dura
As elites tão senis
Que Joana, a louca da Espanha
Ainda é mais coerente
Do que os donos do país.
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A gente só faz ginástica
Nos velhos trens da central
Se quer comer todo dia
A polícia baixa o pau
E como já estou cansado
Sem esperança num país
Em que tudo nos revolta
Já comprei ida sem volta
Pra outro qualquer lugar
Aqui não quero ficar,
Vou-me embora de Pasárgada.
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Pasárgada já não tem nada
Nem mesmo recordação
Nem a fome e doença
Impedem a concepção
Telefone não telefona
A droga é falsificada
E prostitutas aidéticas
Se fingem de namoradas
E se hoje acordei alegre
Não pensem que eu vou ficar
Nosso presente já era
Nosso passado se foi.
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Dou boiada pra ir embora
Pra ficar só dou um boi
Sou inimigo do rei
Não tenho nada na vida
Não tenho e nunca terei
Vou-me embora de Pasárgada.